quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Cenário Macro: Cerrando o tripé da estabilidade

                                  fonte: Itaú BBA (janeiro/2013)


Começo, o texto, transcrevendo parágrafo 26 da Ata do Copom, divulgada no dia 24 de janeiro:


"26. O Copom pondera que o ritmo de recuperação da atividade econômica doméstica – menos intenso do que se antecipava – se deve essencialmente a limitações no campo da oferta. Dada sua natureza, portanto, esses impedimentos não podem ser endereçados por ações de política monetária, que são, por excelência, instrumento de controle da demanda."

 
A propósito, não obstante a fragilidade do investimento, que reflete, em grande parte, o aumento de incertezas e a lenta recuperação da confiança, a demanda doméstica continuará a ser impulsionada pelos efeitos defasados de ações de política monetária implementadas recentemente, bem como pela expansão moderada da oferta de crédito, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas. O Comitê entende, adicionalmente, que a atividade doméstica continuará a ser favorecida pelas transferências públicas, bem como pelo vigor do mercado de trabalho, que se reflete em taxas de desemprego historicamente baixas e em crescimento dos salários, apesar de certa acomodação na margem. 

Ou seja, o Banco Central diz claramente que não há espaço para baixar mais os juros e que o gargalo é na infraestrutura, na confiança do investidor (na economia e no governo) e eu diria que também no mercado de trabalho. No outro dia, depois desse parágrafo, os jornais deveriam ter estampado, a seguinte matéria: 

Ata do Copom da tapa na cara da Dilma, e diz que Política Monetária atingiu o seu limite. Mas não se faz mais sensacionalismo como antigamente! 

Quanto a inflação, creio que deva fechar 2013 no patamar dos 6%, o que é muito negativo dado o cenário de estagnação econômica mundial (imagine para onde iria a inflação num mundo aquecido??). Sabemos que o bicho da inflação é traiçoeiro, que ele fica ali se fingindo de morto, mas ele tá crescendo, crescendo sem parar, se o governo não tomar cuidado a inflação vai além da banda superior da meta, como em 2011 (onde o governo usou artifícios, mudando a metodologia de cálculo, para que a inflação ficasse exatamente no topo da meta). 

Se o governo não atingir a meta de inflação, cenário que hoje não é o mais provável mas tem uma boa probabilidade de acontecer, esperem uma intensificação da aversão ao risco no Ibovespa, porém se a inflação for para o consenso de mercado atual de 5,53% (Boletim Focus, Banco Central, 25/01/13), o dragão arrefecerá e não causará problemas, por hora. 

Falando em Boletim Focus, o consenso de mercado, emitido no último boletim é que o Brasil crescerá 3,1% em 2013 (há 4 semanas essa expectativa era de 3,3%), a Selic feche 2013 no atual patamar de 7,25% e o dólar feche o ano em R$ 2,07

Do último Boletim Focus, apenas concordo com a expectativa da taxa de juros, o BACEN deixou claro que não dá para baixar mais a taxa de juros, porém a queda dos juros é a grande bandeira do governo Dilma, e com as eleições se aproximando, a presidenta deixará os juros subirem? Creio que não!! 

Portanto a Selic deve se manter estável, por um bom período, e o governo deve lançar mão de outras medidas macroprudenciais e aceitar um câmbio mais valorizado para controlar a inflação. 

Por isso, eu discordo da expectativa de taxa de câmbio de R$ 2,07, acredito que o câmbio, nesse momento tem tendência para baixo ( se o cenário de aversão ao risco se deteirorar, seja pela crise de solvência europeia, ou seja pela disparada da inflação interna, a tendência do câmbio passa a ser para cima). e porque eu acredito nisso? 

Porque o Banco Central já deixou claro que vai utilizar o câmbio como instrumento de combate a inflação, segunda dia 28/01 por exemplo, o BC entrou no mercado em posição comprada de dólar, a tendência é o dólar buscar o piso da banda cambial , primeiro R$ 1,95 e depois R$ 1,90. O próprio Guido Mantega, ministro da fazenda, ferrenho defensor da desvalorização cambial, para aumentar a competitividade da indústria brasileira, admitiu que o dólar precisa baixar e sinalizou que não descarta revogar impostos fixados para restringir a entrada da moeda norte-americana no país. 

Ressalto que paralelo a essas tendências de curto prazo, a tendência de longo prazo do dólar é de depreciação,o FED( banco central americano) vem inundando o mundo de dólares com o Quantitative Easing( QE), afrouxamento monetário, isso mais tarde acarretará em dólar mais fraco. 

Mas o que é esse tão falado Quantitative Easing? 

O expediente foi posto em prática pela primeira vez pelo Banco Central do Japão. No ano 2000, alguns anos após a crise do estouro da bolha imobiliária japonesa, as taxas de juros já tinham sido reduzidas a zero e a economia continuava estagnada. Numa entrevista dada em visita por lá, Milton Friedman sugeriu que o Banco Central poderia ir além de reduzir a taxa de juros a zero; deveria continuar a aumentar a quantidade de moeda na economia. Friedman afirmou que a expansão da base monetária, mesmo quando a taxa de juros básica já chegou ao seu limite inferior (zero), seria capaz de estimular a despesa agregada nominal. Um ano depois, em março de 2001, a sugestão foi posta em prática pelo Banco Central do Japão. A política de fixar os juros básicos foi substituída por uma política de metas para as reservas bancárias. O Banco do Japão fez uma grande compra de títulos públicos no mercado secundário, expandindo assim as reservas bancárias - que, com o papel-moeda constituem a base monetária - e chamou a operação de "quantitative easing". Assim foi cunhada a expressão que nada mais é que um jeito bonito de falar que o governo está imprimindo moeda, e muita. o Fed e outros bancos centrais dos países desenvolvidos, depois da crise de 2008, também resolveram seguir a sugestão de Friedman. 

Quanto ao PIB, alguém acredita que o Brasil crescerá mais de 3% esse ano? Mesmo com toda a queda dos juros, o investimento recuou em 2012, a taxa de investimento foi de 18,2% do PIB, perante 19,3% em 2011. O meu palpite, nesse caso não é quantitativo mas sim qualitativo, oriundo do que vejo no sentimento das pessoas e na confiança do empresariado que está em baixa, hoje, duvido que cresçamos mais de 2% em 2013. 

Alerta: Tripé Macroeconômico Ruindo 


É público e notório que a estabilização da economia brasileira é decorrente de um tripé: 

  •  Câmbio Flutuante 
  •  Regime de Metas de Inflação 
  •  Responsabilidade Fiscal 

Pois o governo, nos últimos anos, está cerrando as três pernas desse tripé, e é isso que afasta o investidor e diminui a confiança.

Como já foi visto nesse post, o câmbio não é mais tão flutuante assim, o governo não deixa o câmbio flutuar fora da banda que lhe é conveniente.

As metas de inflação estão em xeque, e o BC começa a perder credibilidade no mercado, os analistas não enxergam mais o centro da meta de inflação como o objetivo do BC, e os dois pontos porcentuais tolerados acima do centro da meta de inflação, até parece que é o novo centro da meta, para o BC.

Por último, a perna da responsabilidade fiscal, também está sendo cerrada. O governo, não atingiu a meta de superávit primário para o ano de 2012, mesmo fazendo manobras contábeis de bilhões e bilhões de reais.

Além disso, Dilma optou por uma política que conjuga fechamento da economia – com controle sobre o câmbio, imposição de tarifas sobre importados etc – com políticas de curto prazo para tentar induzir o crescimento – os chamados pacotes, como a desoneração da folha de pagamento, o IPI reduzido dos automóveis, entre outras medidas. Tais medidas, aquecem a demanda mas no longo prazo, só geram ineficiências. Outro problema que enxergo é no setor de Energia, posso está falando bobagem aqui, mas penso que para o Brasil crescer nos próximos anos, precisaremos de investimentos maciços no setor energético, para ampliação da geração de energia. Pois bem, depois do que Dilma fez com o setor, quem vai investir na geração de energia no Brasil?

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